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sábado, março 08, 2008

As Saudades Matam?

Quem inventou esse sentimento tão estranho e instável? Ao ler o Claras em Castelo, de uma admirável web escritora portuguesa, Marta, resolvi tomar emprestado esse título e a imagem lá utilizados para refletir sobre tal indagação da maneira inerente a minha pessoa. Para saber ou descobrir ou imaginar a origem deste, é mister que façamos uma análise do que é a saudade.

A definição técnica da Lingua Portuguesa seria: "recordação nostálgica e suave de pessoas ou coisas distantes, ou de coisas passadas". Recordações não são necessariamente boas, nem a nostalgia. E a saudade, é um sentimento bom ou ruim? Se levarmos ao caminho de que é agradável aos nossos sentidos, teríamos que completar a definição anterior com esse pensamento. A saudade, sendo boa, pode ser vista naquela falta que a pessoa, ou as coisas, ou as situações passadas fazem, e os sentimentos de alegria que estão ligados a ela. Seria então a saudade ou o sentimento que ela relembra, bom (ou boa)?

Se pensarmos nela como um sentimento ruim, temos também que criar uma redação diferente ou corretiva ao dito acima, definido pelo dicionário Michaelis. A falta que nos faz determinadas origens de lembranças que temos, sejam pessoas ou coisas ou situações, pode trazer um sentimento de vazio ou até mesmo de tristeza, pois gostaríamos de reviver aquelas lembranças ou apenas sentí-las novamente.

Ah, então a saudade não é o que nos deixa triste ou alegres, são os momentos passados. E a forma que encaramos a falta que eles nos fazem. A saudade está então bem definida, apesar de envolver então outras dores e alegrias que não a pertecem, mas que se compromete a ressucitar, de acordo com nosso subconsciente teimoso e independente.

Foto de Pablo Herrerías

E quem falou que a saudade pode ser definida? Quem foi que disse tamanha bobagem? Bem, assumo vagabundamente que eu tive essa ousadia. Porém, a saudade só pode ser sentida, não tem como se definir ou prever. Por isso ela é tão estranhamente maravilhosa e deliciosamente inconstante. A saudade está ligada a falta que sentimos, isto é fato. E só podemos sentir falta daquilo que gostamos, de uma maneira ou de outra. Então, quem inventou a saudade, inventou sentimentos bons, como o amor, a paixão, o desejo, o carinho, o prazer. E os sentimentos foram inventados de que maneira?

Poderia se pensar que Deus, que é o - teologicamente (ou teoricamente) - criador de tudo, teria em sua mágica divina gerado isso no próprio ser humano, ao soprar o barro inerte. Certa vez conheci um cão que morreu logo após seu dono ter ido passear nas nuvens. Então ai está o primeiro erro da frase anterior; a saudade não é própria do ser humano. Animais também tem sentimentos, e não discutam comigo. Vamos a definição padrão de Deus: é o amor, é a verdade, é a vida. Então, Deus é um sentimento, uma doutrina, um ânimo ao inerte. Deus não criou a saudade.

A saudade, caríssimos, não foi gerada, criada, inventada. Ela é a escuridão, que não existe na realidade, por ser somente a ausência de luz. Ela é o frio, que também não é real, por ser somente a ausência de calor. Ela é a ausência do amor, do zelo, do afeto, do carinho, de tudo que é sentindo em relação ao que faz falta.

Ah, saudade. Tenhos tantas, que já não sei se sou nostálgico de natureza, ou se são elas que me têm. E como é bom sentí-las. Como é bom que elas existam. Sem as ter, tudo seria tão vago, tão acaso, tão sem importância. Fecho esse devaneio com o comentário que fiz a minha querida Marta:

"Saudade é uma forma do coração dizer que sente falta de bater por um alguém ou uma razão que o fazia exercitar bastante. É o sentimento de um músculo, quando acostumado ao esforço, dói por sua ausência.

É a dor mais gostosa. Principalmente de se matar."

sexta-feira, março 07, 2008

Visões e sentimentos (parte II)

O vazio estava aos poucos se desfazendo; não que estivesse sendo preenchido, mas havia a sensação que deixaria de existir. No ar havia novas possibilidades, uma esperança surgia, parecia o início de um novo tempo. E foi.

O cheiro que tomava conta dos meus pulmões era doce, sem ser enjoativo. Era suave, sem ser fraco. Era abrasador, sem ser sufocante. Era o cheiro de uma nova paixão. E eu nem imaginava isso. A única vontade que realmente me conduzia era de estar perto de sua fonte, sem nenhuma segunda intenção, apesar de sentí-lo ser uma. Comecei a me apegar realmente, sem pensar em nada, apenas levado a tomar atitudes pelo simples fim de continuar vivenciando aquele cheiro. Eu vivenciei aquele aroma.

Então, eis que surge o dourado. Que cor magnífica! Realmente eu passei a entender porque o homem, já em sua pré-história dava tanto valor a pedras daquela cor. E possuía movimento; desarmonia harmônica que uma simples brisa causava passou a me fascinar. E a sensação de não compreender porque algo que sempre esteve tão próximo de mim e que nunca havia sequer despertado minha atenção, passou a me confundir os pensamentos. Era dourado como a coroa de uma rainha.

Ousei! Resolvi tocá-lo, e aos poucos fui emaranhando meus dedos suavemente nesse dourado e aromatizado ser. Que sensação maravilhosa! De olhos fechados, passei a sentí-lo entre meus dedos, o que só aumentava o aroma, e me embriagava ao ponto de eu já nem perceber as diversas vozes que estavam ao meu redor. Estava totalmente concentrado naquele afago. Era como se eu me afagasse, pois eu sentia o retorno involuntário do carinho que eu transmitia. Não queria que terminasse nunca.

Abri os olhos e comecei a perceber que o dourado se misturava com o negro, e que meus dedos causavam um movimento tão descompassado, criando uma confusão união de cores. Era como se o liquidificador batesse em câmera lenta um líquido colorido, como um rei africano banhado em ouro em pó. Eram fios. Cada um com uma vida própria, cada um com uma cor própria, mas sem variar entre o ouro e negro. Não era tão negro, era castanho escuro.

O aroma se foi, aquele ser que possuía tão sedoso cabelo não pode ser mais tocado. E eu, consegui a tempo desapegar de tudo isso; a tempo de não me apaixonar. Talvez se eu tivesse ousado mais, talvez se eu tivesse sido mais corajoso. Talvez se eu não tivesse tocado, ainda seria dourado. E distante.