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domingo, dezembro 12, 2010

Pequeno pedaço de pensamento

Andando pelas ruas desse novo país que decidi habitar, que por sinal são extremamente sujas, reparei em algo que me chamou a atenção: uma foto 3x4. Simples, com fundo branco, um jovem rapaz de aparentes 30 anos, camisa social branca. Uma pessoa comum, qualquer um (e não que ele seja um qualquer nem que não seja), que deve ter deixado desapercebidamente cair da sua pressa ou correria diária uma imagem sua no meio da imensão fétida de papéis. O importante não é isso; eu o notei, e isso interessa.

Interessa porque, muitas vezes, e tantas devem ter sido as vezes, pessoas passaram e nem se importaram com aquele rapaz. E não estou falando que eu me importei. Somente deixei minha mente débil ser preenchida por dúvidas um tanto mexeriqueiras e comecei tentar decifrar aquele sinal (pode ter sido um sinal), enquanto minhas costas se distanciavam do papel com registro fotográfico.

Não devia ser alguém importante para sociedade, definitivamente. Se fosse, não estaria andando por caminhos tão estranhos como o que eu fazia na minha volta para casa. Devia ser alguém solitário. Sozinho mesmo, daqueles que conversa sozinho e as vezes até discute consigo mesmo. Quantas vezes deve ter se pegado discutindo o que levar ou não para casa em um supermercado, e se repreendendo por essa loucura? Devem ter sido várias! Só pode!

Creio que nem televisão tenha em casa. Ou internet. Ou que um dia vá ler esse blog. Claro que estou certo! Provavelmente, para passar o tempo, comprou vários filmes para ver no computador (quem não tem computador hoje em dia?), e um ou dois livros, mesmo não tendo o costume de ler, só para dizer aos colegas de trabalho que tem cultura como eles. Certamente ele é um tolo, claro que é. Só pode!

Obviamente, conclui-se que não tem namorada. Talvez tenha cogitado ter, mas não para satisfazer suas necessidades fisiológicas. Pensou em ter alguém para conversar, alguém físico, real. Acho que ele nem teria tempo para as responsabilidades que um compromisso amoroso exige. É, está claro isso. Só pode!

Creio ainda que ele vá ao cinema ver o mesmo filme já assistido duas ou três vezes só para não chegar em casa e ouvir a voz da solidão tentando desanimá-lo. Que voz maldita; coitado! Ele realmente precisa dos amigos que um dia teve e sabe-se Deus porque deixou. Definitivamente ele está sem amigos. Só pode!

Pensando bem, como posso concluir tudo isso de uma simples foto? Na verdade, pensei tantas outras coisas que não me lembro e outras que a preguiça me segura as mãos para não relatar. Afinal, qual a velocidade do pensamento? E o quanto ele pode gerar de imaginação em 400 metros?

Porém, algo começou a me surgir. Não, nada do que pensei ele pode estar passando. Seria impossível. Talvez nem tão impossível; seria improvável. Por que? Ora bolas, aquele não era o meu retrato!

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