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quinta-feira, janeiro 28, 2010

Um Jardim Vagabundo


Numa tarde deste escaldante verão, decidi ir a um jardim. Estranha decisão tendo em vista que nessa estação, como todos sabemos, não é mais propícia para admirarmos a possível exuberancia das flores de um recanto. Porém, a grama estava verde como nunca, embora não houve flores de aspecto exuberante, apenas aquelas resistentes ao calor insurpotável que nos aflige.

Porém, nesse final de tarde, o calor foi abrandado pela brisa suave que soprava, trazendo consigo o cheiro de mar próximo àquele desflorido cenário. Fiquei ali, apenas olhando, observando, como que algo procura, sem a menor intenção de achar nada. Como um caçador que caça sua própria sombra, e assim mesmo a deixa escapar.

Algo porém me chamou a atenção. Uma pequenina e singela arvorezinha, verde como a esperança do desanimado olhar e com apenas um pequeno ponto vermelho. Me aproximei para ver: uma pimenta. Quase não se dava para notar, de tão minúscula que era. Com uma crueldade suave, arranquei-a do pé. Mal sabia eu a grata surpresa que me esperava.



Não sei bem por qual motivo, resolvi levar aquela pimenta para meu canto preferido, para aprecia-la, para conhecê-la e apresentá-la ao meu refúgio: um banco, na sombra, que tinha a melhor visão do jardim, e que de tão discreto, não podia quase ser visto por ninguém.


Comecei a contemplar aquele pequeno fruto e uma magia tomou conta de mim. Senti como se ele quisesse me falar algo e quisesse algo de mim. Primeiro, tive a sensação de uma criança, com seu sorriso largo, que se agrada com o menor afago, que se diverte com o pouco que lhe é proporcionado. Um sapeca menina, que vivia dentro da mesma, e que as vezes, se cansava de brincar e se ausentava da vista de todos.

Em outro momento, senti uma adolescente, empolgada com o novo, envolvente e apaixonante; uma garota esperta, que não queria me abandonar, embora soubesse que isso iria acabar acontecendo. Senti a presença e a vontade de conhecer o lado mulher, embora um pouco havia se mostrado, cansado também de viver muitas vezes escondida, tendo que agradar a qualquer custo, mesmo que sendo arranhada por dentro. Porém forte, e sabendo o que quer, mesmo não tendo forças, as vezes, para alcançar.

De repente, esse fruto escapoliu das minhas mãos, e sumiu por dentro da relva fofa. Fiquei estranhamente saudoso, com saudade inexplicável, como se tivesse vivido um século naqueles curtos momentos. Resolvi ir até a arvorezinha-mãe, para ver se algo encontrava. Imaginei que, por ser um fruto tão 'bravo', sua flor devia ter uma forma estranha, e na minha mente veio a imagem de uma velha, com verruga na ponta do nariz e orelhas de abano.

Tolo eu fui: no lugar da humilde plantinha havia uma grande flor; a mais linda flor deu origem aquela pimenta; uma flor amarela, como cabelos loiros de uma bela branquela, que parecia sorrir para mim. Encontrei uma linda flor no jardim, mesmo fora da Primavera, mesmo sem a minha pimenta. Porém, agora sei que ali a poderei encontrá-la novamente. Para que ou por que? Ainda não sei, porém, vou descobrir.

terça-feira, janeiro 12, 2010

Carta sem Destino

Começo essa carta dizendo que talvez você não tenha jamais lido nada igual. Ou talvez até tenha, pois não sou o único no mundo que já amou. Ou melhor, nunca leu, pois ninguém no mundo te ama ou amou mais do que eu.

Como sinto sua falta certamente jamais alguém sentiu; como vivo sofrendo tua ausência jamais ninguém viveu. Minha vida se transformou num perfeito vazio (se é que existe; e se existe não seria então imperfeito pela dor que causa?). Seria talvez ingênuo demais comparar esse sentimento com aquele que, quando criança, surgia no último dia das férias, ao arrumar a mala para voltar para a realidade? Ou tolo demais remeter ao sentimento de angústia ao, impotente, assistir a ida de alguém que se ama para os braços de Hades?

Exagero meu? Somente pensa assim quem jamais amou como eu. Certamente, se te parece tolice, é porque recíproca não existiu. Se te parece sem nexo, é porque jamais mereceu tudo isso que estou passando. Mas se te aprouve, é porque ainda restou um pouco de mim no seu 'eu'. E se algo restou, peço ao meu 'eu' em você que te alegre, te faça feliz, te encha de excitação quando esta carta ler.

Palavras bonitas; todas, a ti, já as falei. Sua beleza; a todo momento alguém a enaltece. Seu olhar; sabe que no mais profundo dele mergulhei e o quanto a ele me apeguei. Seus mistérios; descobri alguns e sempre me excitava a procura de outros. Seu coração; lá dentro morei, se ainda moro, não sei.

Talvez eu lhe envie essa carta. Talvez eu guarde por não achar que você precise ler isso. Talvez não te interesse. Talvez eu esteja sendo covarde; talvez prudente. Talvez eu queira mandar; talvez rasgar. Já queimei tanta carta sua, talvez te forneça essa como combustível para sua fogueira de coisas minhas. Talvez você já saiba o que quero dizer. Talvez você nem queira saber. Talvez o pombo que for a levar nem chegue.

Melhor guardá-la, junto com você, nas minhas memórias e protegida, no meu coração.

sábado, janeiro 09, 2010

Sentimentos Vagabundos

Esses dias fiquei pensando em você, no quão proibido pode ser, no quão excitante seria.

Talvez você nem imagine, talvez até imagine o quanto te quero e desejo você. Seria algo improvável no mundo real, mas a proposta é fugir da realidade e viver o imaginário. Utopia ou destinos distantes, não sei. Sei que o querer você é tão grande quanto a impossibilidade de acontecer.

Como eu queria poder me aproximar de você, sentir mais de perto seu cheiro. Como eu queria tocar seus cabelos (e as vezes até com força segurá-los); tocar de leve seus lábios com os meus, elevar o calor do meu corpo me aproximando do seu. Pois chama com chama é fogo que não se apaga, aumenta e nos leva aos suor da loucura.

Como queria sentir sua pele com um leve acariciar das minhas mãos; tocar seus braços, seu rosto, pescoço e colo. Imaginar já me transforma, penso que realizar seria o ápice do prazer. Quero ser como a chuva, caindo sobre seu corpo nu, como as gotas que suavemente caem sobre seu corpo e deslizam vagarosamente por cada pedaço. Quero sentir o seu gosto e quero te enlouquecer.

Sair do anonimato para me esconder em você e te fazer perceber o quão próximo sempre estive e fazer sua dúvida virar certeza. Como é gostoso o proibido e como isso me faz querer cada dia mais você. Como uma fruta doce, quero saborear você e fazer com que você sinta a verdade do meu desejo e o tamanho do meu querer.

Não te amo, não sou apaixonado por ti. Amor não tem a ver com isso; desejo sim.