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sexta-feira, janeiro 18, 2008

Visões e sentimentos (parte I)

De repente, acordo com um gosto estranho na boca, como se tivesse passado a noite toda mascando o pano de um guarda-chuva velho. Estava frio demais para minha fina camisa, e quente demais debaixo de um cobertor. Percebo estranhamente que estou sozinho, ninguém estava ao meu lado.

Ainda zonzo, meio sem saber onde estava, meio sem conseguir abrir os olhos que ainda ardiam, não sei se pelo resto de sono que restava em mim, ou se pelo vento seco que os atingiam, não identifiquei o lugar onde eu estava. Alias, nem mesmo pensei em tentar decifrar tal enigma irrelevante naquele momento. Apenas sabia que tinha acordado, sentindo que não deveria, e que talvez fosse melhor tentar continuar dormindo.

Rolo para um lado, rolo para outro, e não encontro posição. O lugar onde durmo é tão pequeno que incomoda, mas bem mais confortável do que eu pensara. Macio, sem ser fofo; firme, sem ser duro. Tentei colocar meus pés no chão, porém percebi que meus calçados sumiram durante o efeito do veneno de Hypnos. Me restaram apenas restos de panos rasgados que eu teimava em chamar de meia. E por falar em Mitologia Grega, tentei lembrar qual história em minha confusa mente Morfeu teria me contado durante a noite, novamente sem sucesso. Ou ele teria se esquecido de mim, ou me deixado descansar, ou apenas eu estava cansado demais para me lembrar de fantasias, sonhos.

Lutei bravamente contra a resistência moral e psicológica, e por que não física, de minha mente e corpo, e forcei minhas pálpebras para cima, sentindo uma incomoda dorzinha, nada muito grave, que dificultou ainda mais de agir a minha força de vontade de acordar. Aos poucos, fui tentando focalizar algo, já que a luminosidade naquela manhã parecia tímida. A primeira imagem desfocada e desprovida de qualquer forma que invadiu minha retina foi cinza. Apenas uma cor. Cinza. Mas não era algo cinza. Era tudo cinza. E um cinza pastoso, que eu podia tocar, apesar de nem imaginar me esforçar a isso. Aos poucos vou tentando encontrar algum ponto diferente naquela mancha de tinta, que eu imaginava ser um quadro de um pintor preguiçoso. Eu estava preso dentro do quadro, e isso começou a me preocupar.

Encontrei então um ponto preto, meio desbotado, ainda sem entender o que era. Que sensação estranha de inércia e de luta. Uma guerra sem movimentos, que aliás não ocorriam devido a prisão de meu corpo. Com a força que me restava, ou que eu estava absorvendo da manhã, decidi me levantar. Encontrei meus calçados, vesti e fui andando meio sem rumo, sentindo como se estivesse dentro de uma grande caixa em movimento, algo que dificultava ainda mais meu andar já cambaleante.

Encontrei uma porta. Sim, apareceu uma porta. E a imagem começou a se restrigir a única janela descoberta. E todo o resto era preto. Breu total. Abri a porta e me deparei com um pequeno banheiro. E uma janela ainda menor. Resolvi aliviar minha encharcada bexiga, e continuava olhando fixamente para a pintura, que percebi que tinha um movimento próprio. Além disso, traços pretos passavam na frente dela como vultos, o que começou a me deixar ainda mais nervoso. Foi quando percebi uma certa divisão entre os tons de cinza. Notei que tinham dois tons de cinza, e que tinham movimentos independentes. Um, era como um líquido que se espanhava e retraia, e o mais claro, era como uma fumaça que tomava conta de tudo.

O ponto preto! Pensei! Focalizei! Observei! Vi! Um barco! O mar! Cinza escuro! O céu! Cinza claro! Postes! Vultos pretos rápidos!

Me recompus olhando minha imagem num velho espelho, pois estava chegando mais uma vez no mundo dos meus desejos, a realização dos meus sonhos. E, dessa vez, eu estava acordado.

1 Comente:

At quinta-feira, janeiro 31, 2008 1:30:00 AM, Blogger KetyMarques disse...

Obrigada pelo seu comentário.
Abraços.

 

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