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terça-feira, novembro 06, 2007

Papo vagabundo

Estava pensando se tenho ainda algum leitor, devido a minha inadimplência em postar meus devaneios mal-escritos, ou será que estou me relatando ao vento? Conversar é melhor do que monologar, não acham? Aliás, vocês tem reparado como é difícil hoje em dia manter uma conversa apenas, sem interesses quaisquer, apenas para passar o tempo com alguém? Vejam essa música:
"Deixa que digam

Que pensem
Que falem

Deixa isso pra lá
Vem pra cá
O que que tem?
Eu não estou fazendo nada
Você também
Faz mal bater um papo
assim gostoso com alguem ?"

A foto é apenas uma homenagem ao autor-cantor sarcófico dessa música, o mestre Jair Rodrigues, um grande e nobríssimo Vagabundo, no sentindo melhor que existir da palavra (que ele não se zangue com isso!). Note que é exatamente o que eu estava comentando, principalmente a última frase. Será que há mal bater um papo gostoso, pelo simples fato de não estar fazendo nada? Qualquer conversa tem que ter uma finalidade, um interesse, um resultado? Claro que não; atire a primeira pedra quem nunca "jogou conversa fora". Mas pens
e em pessoas de sexo oposto (estou falando obviamente de heterossexuais), sozinhos, conversando. Certa vez alguém me disse que não existe amizade entre homem e mulher sem interesse. Na hora, me irei e discordei plenamente, abrindo um discurso excessivamente puritano. Depois comecei a reparar que isso não é de todo mentira, aliás tem muita verdade nessa história.

A própria música do intrépido cantor acima mostra isso na sua segunda estrofe, apesar da despretenciosa primeira estrofe referida acima. Vejamos:

"Vai, vai, por mim
Balanço de amor, é assim
Mãozinhas com mãozinhas pra lá
Beijinhos com beijinhos pra cá
Vem balançar
Amor é balanceiro meu bem
Só vai no meu balanço que tem
Carinho pra dar"




Vocês notaram na foto acima essa figura ímpar da música brasileira, que atualmente regravou a música em questão. Sempre que o vejo, me vem na cabeça uma imagem de um surfista que mora no Centro de Belo Horizonte, ou de um japonês nato, com cabelo rastafari, camisa do Che Guevara, uma rave dançando trance. Essa mistura maluca chamada Lulu Santos, completa também assim, fiel a versão original. Note que a conversa descambou para um lado mais de conquista do que de troca de idéias ao léu. Incrível isso né? Seres humanos são realmente facinantes por suas complexas e naturais atitudes. Um tanto quanto previsíveis, mas curiosas.

Existem então de fato um interesse, seja ele profundo, quando se objetiva um resultado específico, ou superficial, no caso da simples troca de idéias. Se isso é verdade, cheguei em um paradoxo, pois eu afirmei no início que era possível uma conversa desinteressada. Paradoxo como "eu sou de Creta e todo cretense é mentiroso". Se estou falando a verdade, a frase é falsa, pois não seria mentiroso. Se estou falando mentira, por ser cretense e mentiroso, a frase é falsa, e minha afirmação uma verdade (contradição).

E detalhe que eu, inicialmente, não tinha pretenção nenhuma quando iniciei esse post, porém, durante a escrita, a intenção de formar um paradoxo de auto-referência surgiu. Talvez não tenha conseguido de forma brilhante ou plena, porém que meu esforço seja levado em conta.

Curioso isso. Talvez o interesse surja durante uma conversa despretenciosa, e de repente, ao surgir um assunto específico, inicia-se a pretenção de sujeitar o interlocutor ou o outro participante da discussão a um objetivo, esperando um resultado. Um tanto esquisito pensar nisso. Mesmo porque, durante uma conversa, obviamente, não paramos nem um momento para sequer analisarmos esse tipo de coisa, e caso agíssimos assim, seríamos provavelmente considerados loucos. Porém nosso subconsciente trabalha nisso, involuntariamente.

O importante é conversar, sempre e principalmente quando há assuntos inacabados. Experiência própria: assuntos inacabados são fantasmagóricos, evite-os ou acabe antes que eles brotem novamente. Novamente, apenas um conselho desse ser "que não está fazendo nada". E se você está me lendo, "você também".